A Páscoa da minha infância

Na semana dos Ramos
Lava os teus panos
Que na semana da Paixão
Os lavarás...ou não.

Era com este provérbio... que os preparativos da Páscoa começavam.

E as limpezas da casa, aí estavam:
Lavar...
Esfregar...
Espanar...
Encerar...
Limpar...Limpar... limpar...
Chegavam da costureira... as roupas novas
Para no domingo de Ramos estrear.
De ramo de loureiro, na mão
Com camélias e alecrim
A enfeitar.
Eram depois na quinta e sexta feira santas...
As confissões
As procissões
Os sermões
E... eram dias de luto
Nem se podia cantar!
E as mães e as tias sempre, a trabalhar:
Amassavam
Tendiam
Coziam
No forno de lenha, por elas aquecido...
As trigas-milhas
Os biscoitos
O folar.
Vinha depois...
A missa de sábado santo
Que à meia-noite....
O senhor padre ia celebrar.
Os afilhados lá iam, todos janotas, visitar
Os padrinhos
As madrinhas
Receber no domingo de Páscoa
As amêndoas
E o folar.
Era depois tempo de esperar...
Ia-se receber a visita pascal
Com a mesa posta
Na melhor toalha
Onde nada podia faltar:
O queijo
O vinho fino
As amêndoas
O folar...
Ouvia-se a campainha...
Estava o compasso a chegar:
O rapaz da água benta
Que o senhor padre aspergia...
Aleluia...Aleluia...a proclamar
E a Cruz de flores, enfeitada
Para toda a família
Em redor, beijar.
Depois de cumprimentos e felicitações
O compasso partia.
Eram então... horas
De merendar
E confraternizar.

E por outra Páscoa...esperar.


Dina